10/12/2007

15. Borgonhas (Domaine Jacques Prieur)

Casa do Porto, Jardins, São Paulo, 20 de novembro. Nove vinhos seriam degustados, todos do Domaine Jacques Prieur. Borgonha é região para iniciados. Inúmeros produtores, com pequenas áreas, assediados pelos tradicionais negociants... A chance de se pagar muito por qualquer vinho dali é grande e, proporcionalmente, a chance de pegar rótulo ruim é baixa. Mas existe. E não há nada mais chato que queimar uns bons reais por algo que não vale tanto. Como fugir da cilada? Pesquisando muito sobre o vinho e sobre o produtor. O Domaine Jacques Prieur é top entre os produtores mais respeitados. O que provamos?

BRANCOS

1. Clos Mathilde 2004
Cor palha, o que costuma indicar vinhos bem jovens entre os brancos. No aroma, você já sente a fruta, que cresce quando você agita a taça. Na boca, o primeiro contato é seco (mas não áspero), com certo sal. E aí vem a primeira surpresa. O aroma de fruta não aparece na boca, em que o vinho está mais mineral. Decepciona um pouco por não ter muita permanência. Vai bem com... ostras, num pré-almoço, por causa de sua mineralidade, ou morangos, para encerrar a tarde. 99 reais

2. Meursault, Clos de Mazeray 2004
Cor palha mais escura, sinal de mais complexidade que o anterior, apesar de ainda jovem. Aromas minerais, que se confirmam na boca. O primeiro contato é de maciez e a permanência cresce. Ótimo vinho. Vai bem com... folhas verdes e queijo de cabra, numa salada, ou um peixe e molho leve. 327 reais.

3. Puligny-Montrachet, Les Combettes 1er Cru 2003
Aqui a coisa começa a ficar perigosa. Na cor, sai o palha e entra em cena um amarelo firme, embora ainda suave. Se você resolver guardá-lo, ele vai escurecer. No aroma, forte presença de fruta. Na boca, o primeiro contato é aveludado, e o gosto de fruta aparece, mas nada carregado. Boa permanência. Vai bem com... vamos lá, camarões imponentes, lagostas, este é o parceiro perfeito. 546 reais

4. Beaune, Champs Pimont 1er Cru 1999
Tem oito anos, mas ainda um amarelo suave na cor, sinal de que pode segurar um tempo na garrafa. Vale arriscar? Vale. Mas depois de descobrir seus aromas complexos de frutas e minerais (um pouco mais para estes que para aquelas) e até certa canela, ou depois de perceber sua presença (o primeiro impacto é de que o Champs Pimont toma conta da boca), eu não conseguiria esperar. Boa permanência. Vai bem com... saladas, frutas, alguns queijos, peixes, mas não é rótulo para penduricalhos, por isso seria um desperdício fora de um almoço ou jantar. 273 reais

5. Montrachet, Grand Cru 2001
Branco, mas foi o último a ser servido na noite, depois dos quatro tintos abaixo. E não poderia ser diferente. Um Montrachet desse porte faz você entender o que é vinho branco de verdade. Sua cor é amarelo escuro, que indica potência e/ou idade e/ou complexidade. Aromas? Bem, todos os que seu olfato consegue distinguir. De fruta a mineral, especiarias, madeira. O primeiro contato na boca lembra um tinto, tamanha a presença. E tem boa permanência. Vinho espetacular. Vai bem com... Eu tentaria tudo, de atum gordo quase cru a carne de porco com alecrim. 2.893 reais

TINTOS

1. Beaune, Champs Pimont 1er Cru 2002
Sua cor é um vivo violeta, apesar de ter seus cinco anos. Vinho que vai crescer, e muito. No aroma, flores e frutas, mas na boca ele te surpreende: primeiramente, é seco, austero, contradizendo o que o aroma sugeria. Depois, o sabor: nada de fruta - ele vai para o "outro lado" e ganha então um sabor animal, apesar de a fruta permanecer. Esse vaivém entre o que o aroma sugere e o que sabor exalta é típico dos grandes borgonhas. Boa permanência. Vai bem com... queijos a carnes, mas parece nascido para um Filé à Rossini. 254 reais.

2. Clos de Vougeot, Grand Cru 2001
Se você curte futebol, este vinho seria Zidane (e o próximo, o Echezeaux, seria Platini). Um craque. A cor é grená, como a camisa do Juventus da Mooca, ou do Torino, claro. No aroma: frutas vermelhas, quase compotas. Na boca: o primeiro contato é mais para o seco, e o vinho preenche a boca totalmente. O sabor: complexo. E o que significa complexo? Significa um vinho cujo primeiro sabor é um, depois aparece outro, mais cinco minutos e vem o terceiro... No caso deste Grand Cru, no início chega a fruta, depois outra fruta, mais uma... Ótima permanência. Vai bem com... se recomendei Filé à Rossini antes foi para guardar o Boeuf Bourguignon para este. Um excelente borgonha para um tradicional prato da Borgonha. 527 reais

3. Echezeaux, Grand Cru 2001
Aquela cor grená marcante, aromas de frutas vermelhas, não tânico, não seco, toma conta da boca - demonstra ótima permanência - e entrega sabores que vão de frutas a ervas verdes. Bem, "entregar" não é bem o termo, os sabores mais lembram soldados no desembarque da Normandia: é uma invasão. Não se intimide com o primeiro gole. Ele vai crescer e mudar a cada taça. Se resolver guardar, poderá se tornar um vinho espetacular. Mas já se trata de um puro-sangue. Se for tomar agora, abra a garrafa pelo menos 30 minutos antes de servir. Vai bem com... qualquer grande prato, qualquer queijo forte. Para mim, foi o vinho da noite - especialmente pelo potencial que tem para daqui a alguns anos. 891 reais

4. Musigny, Grand Cru 2001
Seu vermelho escuro, a caminho do marrom, mostra que ele tem envelhecido bem. No primeiro contato de boca, não ofende (tecla sap: você não sente a boca secar imediatamente) e os sabores aparecem, todos juntos, as frutas, alguma especiaria, madeira. Tudo em perfeita harmonia. E a permanência é longa, ótima. Vai bem com... assim que provei este vinho lembrei-me do Cotechino e Zampone con Lenticchie (embutidos italianos com lentilha) do excelente Aguzzo (São Paulo). 1.255 reais.

Nenhum comentário: