07/12/2007

10. Amarone (Bertani)

Existe uma boa razão para qualquer brasileiro passar a ver 1964 como um ano espetacular: o Amarone produzido pela Bertani. Não é um vinho propenso à unanimidade. Ele me lembra o meia Alex (ex-Palmeiras e Cruzeiro, hoje ídolo no futebol turco). Calma lá, vou explicar. Para alguns críticos, Alex é lento. Para outros, um craque. Mas defensores e detratores concordam que se trata de um grande jogador. Assim vale com o Amarone della Valpolicella e seu indefectível aroma de frutas passas. Para alguns especialistas, nunca estará à altura dos grandes Barolos ou Brunellos. Para outros, sua complexidade contém força – demonstrada também no elevado teor alcoólico, que vai dos 14% aos 16%.

Dia 11 de julho de 2007 estive com um restrito grupo de 12 ou 13 pessoas numa degustação vertical de Amarones da Bertani em comemoração aos 150 anos da vinícola. Os Bertani figuram entre os três principais produtores de Amarone e são, com certeza, os mais clássicos – ou conservadores, dependendo do ponto de vista. Provamos oito safras – 1959 (a primeira delas) 1964, 1967, 1968, 1978, 1985, 1995 e 1998. Meu caro...

Vinhos desse porte demoram para ser feitos, demoram para ser abertos, demoram para ser degustados... Ainda bem. A grife Bertani mostra toda a filosofia slow wine nos Amarones. As uvas, de parreiras especialíssimas, são colhidas a mão e descansam meses até quase chegar ao estado de passas. Aí, são observadas por um grupo restrito de cerca de 40 funcionários, verdadeiros mestres que todas as manhãs e tardes dão uma olhadinha para ver como andam as coisas. São pessoas como Remo Brunelli, nome e sobrenome, não apenas um crachá. Tudo sem pressa. Dali as uvas partem para a vinificação – de cada 100 kg, obtêm-se 40 litros de vinho. Depois, são pelo menos cinco anos descansando em barris de carvalho. Eu disse pelo menos cinco anos. A safra 1959, por exemplo, só foi engarrafada em 1987. Isso garante a longa vida desses vinhos.

Você pode encontrar seis das oito safras degustadas nas importadoras Casa Flora (São Paulo) e na Porto a Porto (Curitiba). Estamos falando de vinhos que estão longe do declínio, mesmo os que se aproximam ou já passaram dos 40 anos. Eles demonstram frescor e, em boa parte dos casos, muita vida pela frente. No distribuidor, os preços variam de 270 reais (1995) a 1188 reais (1959). Caro? Bem, beber algo que pode ser mais velho que você tem lá seu preço. Viver a experiência sem provocar um rombo inesquecível no orçamento vale como opção para o dia em que resolver juntar aquela turma de amigos e lembrar os bons tempos – divida a garrafa (e a conta) com os goodfellas!

Em tempo: aguarda-se para breve a assunção dos Amarones, hoje DOC, ao panteão DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida, lista seleta de 35 eleitos). Merece.

Publicado na revista VIP (agosto/2007)

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