09/12/2008

54. Alô, Madalena

Boa notícia aos adictos de Vila Madalena. Especialmente àqueles que tinham o Filial como endereço certo, a ponto de citá-lo no Imposto de Renda: Ailton, garçom de deixar saudade, deve voltar a trabalhar para os irmãos Altman. Desta vez, no Genial. Ailton deixou o Filial para atuar com talento no sem talento Leblon. A notícia, se se confirmar, é presente gordo de Natal.

29/09/2008

53. Bar legal

Caro, talvez seja a dica com menos informação que eu vá postar aqui, mas vá mesmo assim. Acaba de abrir um bar bem legal na esquina da Apinajés com a rua Herculano, a dois quarteirões da Heitor Penteado, perto do metrô Vila Madalena. Ali o subdistrito é Perdizes, mas é o lado oposto ao do Parque Antarctica. O bar é filhote da oficina Old Skull, do segmento chopper, que fica no mesmo endereço. É lugar para beber cerveja com bruschettas, sem afetação. Para levar amigos.

52. Oficina Bistrot

Numa esquininha bacana de Pompéia -- ou seria da Vila Romana?, nunca sei os limites -- fica o primeiro restaurante de Fernando Morais. O chef passou por cozinhas estreladas da cidade, especialmente junto de Alessandro Segatto. Em sua casa, o que primeiro chama a atenção é o tamanho. Minúscula. E como é bom você encontrar ainda lugares minúsculos. Na parte da entrada, são 4 mesas. Na de baixo, um tanto semelhante. A cozinha é aparente, no piso de entrada. O cardápio é feito a mão. E a comida é muito saborosa. O melhor das entradas são as bruschettas. Nos pratos, Signora P virou fá do nhoque de mandioquinha num saboroso e grosso caldo de carne. Nas nossas três visitas, pedi tres pratos diferentes. Gostei de todos: do cordeiro, do magret com couscous de queijo brie (realmente muito bom) e do Chateaubriand Porcini. Poucos vinhos, então, leve o seu. Preços dos pratos entre quase 30 e quase 50. Fica na Barão do Bananal, 718, esquina com a Desembargador do Vale, tel. 11 3675.3998. Terça a sábado à noite, sábado e domingo almoço.

51. Irlandês, Mulligan

Bem, eu festejei. Eu e Signora P! Domingo à noite (28.9.2008) aportamos no recém-inaugurado Mulligan, o primeiro restaurante irlandês em São Paulo. Aberto há duas semanas (meados de setembro), ele não é um pub, mas não deixa de ser um pub no que tem de ser pub -- se é que vocês me entendem. Tem boas cervejas, e as indefectíveis. Sim, Guinness (dois 'N' e dois 'S' sempre, por favor). Mas também Kilkenny e outras não-irlandesas. E pratos da culinária irlandesa. Não espere variedade -- nem lá nem aqui. Os caras já fazem a cerveja que fazem, você não iria esperar tamanha criatividade também na cozinha do país, né? Mas o Mulligan, com o chef Ricardo Teruchkin, faz direitinho o papel de trazer o que ela tem de essencial e variar onde se pode variar. De entradas, fomos de Cogumelo Gigante com Brie e Seafood Chowder (a saborosa sopa de frutos do mar que pode ter mais sabor de frutos do mar que de creme para ficar imbatível). Como prato principal, Boxty (umas panquecas de batata) de Beef-Guinness-Bacon-Queijo e Costeletas de Cordeiro com Batatas (a carne vem como num bolo, deliciosa). A casa é o primeiro investimento em São Paulo dos donos de dois pubs de Porto Alegre, e parte da brigada é gaúcha. Garantia de serviço atento. Rua Bela Cintra, 1597, tel. 11 3892.1284. A idéia é abrir de terça a domingo à noite e sábado e domingo no almoço. Mas ligue antes, porque eles podem estender o almoço de domingo e fechar à noite. Preços dos pratos na casa dos 20 aos 40.

18/08/2008

50. Vinho bom e de graça!

Ok, confesso que o título aí de cima está bem sensacionalista. Mas e seu eu disser que mesmo sendo sensacionalista é verdadeiro? Acredite. Toda terça-feira, o restaurante Matterello realiza degustações gratuitas de vinho. Isso mesmo. Se você buscar por palavras-chave tente “vinho-bom-grátis” e veja o que vai encontrar. Nada. Os convites são feitos a quem está cadastrado pelo restaurante – bom motivo para você aparecer lá para jantar.
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Na terça (12 de agosto) foram provados quatro italianos do Abruzzo – um branco e três tintos. Abruzzo é uma região de costas para o Lazio (onde está Roma), de frente para o Adriático. Os rótulos serão da Vinícola Caldora, que produz vinhos jovens, frescos, fáceis de beber e ótimos para uma primeira degustação – tecla sap: se você for iniciante, é o dia ideal. A noite foi encerrada com um tinto top da casa, o Yume, feito com 100% uvas montepulciano.
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Terça que vem tem outra. E na seguinte, na seguinte, na seguinte... Com vinhos também italianos, mas já mais robustos que os bons exemplares da Caldora, dia 19 a aula será feita com um rótulo do Chianti (Toscana) e três de Marche, do produtor Zaccagnini – um 100% sangiovese, um Rosso Conero DOC (100% montepulciano) e um Rosso Piceno DOC (60% sangiovese e 40% montepulciano).
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Tem degustação toda terça. No dia 4 de agosto, foram portugueses da boa importadora Lusitana. As experimentações gratuitas do Matterello começaram há cinco anos. Os mais desconfiados podem se questionar, suspeitosos: “Qual a vantagem que Maria leva dando vinho às pessoas?” A resposta está (como sempre) na simplicidade e na sabedoria: quanto mais gente entender de vinho, maior e melhor será o consumo.
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E aí o Matterello será sua opção. Aberto há 15 anos – fará aniversário em novembro – este restaurante produz uma comida italiana que não se encontra facilmente pela cidade. E olha que falamos de São Paulo, onde comer criações da Bota é tão inevitável quanto o trânsito intenso. Exemplos? Onde você encontra por aí Fagiole al Fiasco (foto acima, 32,40 reais)? Prato típico de antigos camponeses da Toscana, numa garrafa são colocados feijão, carne seca, bacon, lingüiça, ervas e muito azeite. A garrafa passa oito horas junto ao fogo e depois é levada à mesa. Meu caro, se você ainda não provou, trate de resolver isso logo. Uma opção mais branda e igualmente deliciosa é o Rotolo di Spinaci (32,40 reais). Uma espécie de rondeli de massa bem fina recheado com ricota, parmesão e espinafre, ao molho de sálvia, é servido com escalopinhos. É de comer de joelhos.
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Para acompanhar... bingo: vinho. E aí vem nova surpresa. Você terá 850 rótulos do mundo inteiro à disposição, com preços que chegam a 701 reais (um supertoscano do mítico Antinori) a achados de 16,90 reais (sim, você leu certo). Basta pedir ajuda ao sommelier Ednaldo Barros. O cara é fera, prestativo e vai colocá-lo na próxima degustação do Matterello.
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Publicado originalmente no blog Direto de São Paulo do portal viajeaqui.com.br, em 12/8/2008

17/08/2008

49. A cozinha que falta

Pense na cozinha de um país e provavelmente São Paulo terá um bom representante dela. Em alguns casos, é verdade, haverá poucos endereços – a cozinha grega, a legítima turca (não confunda turca com árabe, por favor) ou mesmo a escandinava estão nessa categoria. Ainda assim, há bons nomes. Mas da cozinha peruana... O que é falta grave para a cidade que se orgulha de suas opções à mesa mais do que de qualquer outro tema.
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A cozinha peruana tem sido cada vez mais incensada. Na América do Sul, além de Lima, evidentemente, tem na moderna Santiago seus melhores representantes. No Brasil, quase não há peruanos. Uma pena, porque com temperos que só se encontram lá e peixes e frutos do mar do Pacífico, os sabores são bem distintos do que temos. Um raro e brilhante exemplar de peruano está em Maceió, o Wanchako.
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Simone Bert, dona e chef, é sócia do restaurante com seu marido, o peruano José Risco Bert. Abriram o Wanchako em setembro de 1996. No começo, pegavam a bicicleta, iam para o trabalho, se enfiavam na cozinha, abriam as portas e ninguém aparecia. Nada de cliente. Como persistência e talento acabam se encontrando, o restaurante pegou. Hoje, recebe gente do país todo. Eu me incluo entre aqueles que trocaria uma tarde de praia em São Miguel dos Milagres por uma noite de comilança de ceviches no Wanchako. E olha que as praias de lá estão entre as melhores do mundo.
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Como Simone não pensa em trocar Maceió por São Paulo (aqui ela só aparece de quando em quando para dar cursos), a gente anda meio órfão.
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Ok, um post para falar de São Paulo e logo vem o chato tratar do que não se encontra? É. Mas podemos estar perto de uma boa notícia. O restaurante Astrid y Gastón, que nasceu em Lima e se espalhou por Chile, Colômbia, Equador, Venezuela, Panamá, México e Espanha, vai chegar à Argentina e deverá colocar um pé pros lados de cá entre o fim do ano e o começo de 2009 – está prometido. Não ainda com a casa mãe, o Astrid y Gastón, mas com o braço mais new look do grupo, a cevicheria La Mar. Ficará na rua Tabapuã, no Itaim. Até lá, São Paulo nos deve uma opção 100% peruana -- top 5 entre as cozinhas mais vibrantes do mundo.
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Publicado originalmente no blog Direto de São Paulo do portal viajeaqui.com.br, em 12/8/2008

24/07/2008

48. Com a mão (até, e principalmente, sushi)

Estou adepto de comer o máximo possível com as mãos. Sei que muitas vezes pode parecer indelicado, ou mesmo sujo, mas parto do princípio de que as mãos estarão limpas, ok? Há certas licenças de etiqueta (o pão, por exemplo), licenças tradicionais (na linha de "o que voa pode ser comido com as mãos") ou licenças culturais (de muitos países asiáticos, árabes e africanos). Mas desde que adotamos os talheres como fundamentais à mesa, nós, ocidentais, vemos no ato de usar a mão para comer algo que beira o incesto. Esqueça. Um bom guardanapo (mesmo de papel) será o suficiente para você não se sentir emporcalhado. Linguicinha calabresa? Mão. Peixinho frito? Mão. Salaminho? Mão. O último pedaço da pizza? Mão. Sushi? Mão. Até porque a regra recomenda a mão, por favor! A gente usa hashi porque está acostumado a usar talher, mas o correto é pegar o sushi e colocá-lo na boca com a parte do peixe encostando primeiramente a língua. Lanches? Mão. Já viu como fica diferente o sabor daquele hamburgão comido na mão de um com garfo&faca? Azeitona? Mão (vamos combinar que beira a chanchada caçar azeitonas com garfos, palitos, colheres e toda sorte de utensílios). Esfiha aberta? Mão. Batatas em geral? Mão. Da próxima vez, arrisque. Faça escondido, de um jeito que sua companheira de labuta gourmand não veja, ou não se sinta ofendida, mas arrisque.

47. Pagando o Pato (Mercearia do Francês)

Começo este post dizendo que vou me obrigar a dar uma segunda chance à Mercearia do Francês (rua Itacolomi, 636). Ambiente, Atendimento e Cozinha. Ataque, defesa, meio-campo. Ao contrário do futebolista que chama de cozinha a defesa, a cozinha para mim é o meio-campo, lugar dos craques (quando os há). Você entenderá o que quero dizer daqui a pouco.
Ambiente -- Muito agradável, num pedaço tranqüilo de Higienópolis (bem, o cemitério da Consolação ali do lado ajuda nisso). Tipo de lugar em que dá para fazer um jantarzinho a dois, um almoço de negócios, um curto happy hour ou uma tarde de cerveja e a sensação é de que ele funcionaria bem em todas as opções.
Atendimento -- Hummm, aqui a coisa foi mal. O serviço era atento (quesito 1), cortês (ponto 2) e na velocidade certa (item 3). Mas errava no fundamental (saber atender). Falamos de atendimento, não? E saber atender implica não ficar chateado quando se pede uma jarra de 500ml de vinho (porque assim estava na carta) e ouvir um "você não quer ficar com o restinho (250ml)?" já que a probabilidade de alguém pedir aqueles 250ml do mesmo vinho era baixa; deslize 2: não ser claro com relação ao cardápio e menu do dia. Explico: fui almoçar na Mercearia do Francês dia 17 de julho com a Signora P. No cardápio não constava que havia um menu executivo, desses de almoço -- a idéia é sensacional, muito difundida na França e por um bom (e crescente) punhado de restaurantes paulistanos: o chef monta um cardápio fixo com dois ou três pratos do dia, para dar agilidade à cozinha, e cobra-se menos do que se cobraria na média dos pratos da casa (que normalmente são os preços da noite). Esse menu na Mercearia do Francês estava naquelas tabuletinhas acrílicas de mesa e, confesso, não reparei. Pedimos uma pequena sopa de entrada + cassoulet, pratos que estavam no menu executivo, mas foram cobrados depois como à la carte. Não gosto de discutir. Apenas disse ao maître sobre a falta de clareza, porque para mim nossos pedidos eram os do menu do dia e que ele cobrava como à la carte. Ele disse que o dia era outro (não explicou direito qual), deu uma de "não-é-comigo". Não gosto mesmo de discutir, disse que pagaria o que ele dizia ser o correto (3 vezes o que seria se cobrassem o menu executivo). Aí vem a conta e ainda assim errada (a mais, claro). Mas isso não é motivo para o post. Vamos à cozinha.
Cozinha -- Pedimos os pratos. A lingüiça estava ótima, o bacon vinha de todas as formas -- um naco suculento, ora crocante, alguns em cubos. O feijão, no ponto certo. A temperatura de tudo, perfeita. Destoando, a batata, um tanto encharcada (deixei de lado). E... derrapada final: o pato estava seco e, conseqüentemente, duro. Não é coisa simples fazer confit -- exige domínio do 'saber cozinhar' e exige tempo. Logo, uma maneira simples de ganhar tempo é passar pela frigideira algo que deveria cozinhar lentamente sob gordura. Às vezes o truque é bem feito. Muitas vezes, a selada completa o prato. No caso, descompletou o pato. A decepção foi grande. Confit seco é como magret 'passado': não existe. Ou não deveria existir. Mercearia, darei mais uma chance. E direi aqui como você se sairá.

01/07/2008

46. Nieto Senetiner

Foi aberta na noite de segunda-feira (30.6.2008), em São Paulo, a Casa Nieto Senetiner. Será um espaço de degustação, cursos, eventos, enfim, de divulgação da marca argentina. Nieto Senetiner é como o futebol de seu país: tem muita classe e muito espírito de luta. O que mais admiro nessa vinícola (cujos vinhos são distribuídos no Brasil pela Casa Flora e pela Porto a Porto) é a dedicação e o compromisso com a qualidade. Mais: dedicação e compromisso destinados a gama toda de vinhos, não apenas aos tops. Você pode provar um cabernet da linha Benjamin (a mais básica), de 12 reais, e ter a certeza de que se trata de um exemplar dos melhores em sua faixa de preço. Um ponto acima vem a linha chamada Nieto Senetiner -- na casa dos 20 reais na importadora, e você leva para casa um reserva. Ou pode escolher um da linha Cadus, o premium da grife, e saber que investiu cerca de 180 reais por um exemplar realmente diferenciado.
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Por trás desses vinhos está o enólogo Roberto Gonzáles. Quando chegou à Nieto Senetiner, em 1991, a vinícola tinha uma seleção de cinco vinhos (4 tintos e 1 espumante), todos bem básicos. Hoje, Gonzáles é o mestre de um portfólio de 24 rótulos (2 espumantes, 3 brancos e 19 tintos).
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Até os anos 80, a Argentina tinha um consumo per capita anual de impressionantes quase 70 litros. Agora, são 28 litros de vinho por habitante/ano. Mas, ao contrário do que acontecia em décadas passadas, em que o consumo era quase todo de vinho "barato" (como sinônimo de vinho vagabundo), hoje nossos vizinhos entornam qualidade.
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"Vinho é antes de tudo conhecimento, técnica.
É arte, mas é também artesanato"
Roberto Gonzáles, enólogo da Nieto Senetiner

Linhas Nieto Senetiner
Espumantes 2 (um brut e um extra brut) - Benjamin 4 tintos (cabernet, malbec, syrah e tempranillo) 1 branco (chardonnay) - Nieto Senetiner (tintos que passam 12 meses por madeira -- o chardonnay passa 3 meses) 6 tintos (bonarda, cabernet, malbec, malbec DOC, merlot e syrah) 1 branco (chardonnay) - Don Nicanor (18 meses de madeira para os tintos) 4 tintos (blend-assemblage de cabernet-malbec-merlot, cabernet, malbec e syrah) 1 branco (chardonnay-viognier) - Bonarda (18 meses de barrica) 1 tinto (bonarda) - Occasionale (24 meses de barrica) 1 tinto (ancelotta-bonarda-syrah) - Cadus (24 meses de barrica, vinhos com potencial de guarda de 10 anos) 3 tintos (cabernet, malbec e syrah)

21/05/2008

45. Viu Manent (vinhos)

Terça à noite, duas opções de programa: secar aquele timinho da marginal Tietê pela Copa do Brasil ou secar umas taças na degustação de 14 vinhos de uma vinícola chilena no Cantaloup. Bem, não foi difícil escolher. E quando saí da degustação, à 1h da madrugada, ainda soube que o timinho tinha perdido. Viver bem realmente é a melhor vingança.
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Viu Manent é uma vinícola diferenciada, apesar daquele começo comum a muitas outras casas chilenas que hoje têm grande ou médio porte. Nasceu engarrafando uva de terceiros, passou a produzir vinhos de mesa (nada saudosos, época em que a marca ficou conhecida em todo o Chile pelo slogan "!Salud, com vinos Viu!") e embarcou, na virada dos 80 para os 90, na onda da mudança que varreu produtores do país. "No começo, foi uma aposta tecnológica, que logo virou uma aposta filosófica", diz o diretor-gerente da Viu Manent, Jose Miguel Viu, que esteve em São Paulo para a degustação.
A frase de Jose Miguel diz muito. As vinícolas chilenas que perceberam ser necessário mudar (para melhor) ou morrer investiram, invariavelmente, em tecnologia. Isso elevou a qualidade do vinho, mas muitas vezes direcionou a produção às necessidades de mercado -- leia-se produzir bons vinhos, sim, mas sempre atrás de atender o freguês, limitando o risco, a ousadia, a surpresa, o portfólio.
Na Viu Manent, a produção anual é baixa, bate 160 mil caixas, em contrapartida o portfólio é extenso para o porte da empresa: 22 rótulos. Um pouco menos de 8% do total produzido é vendido no Brasil pela importadora Hannover há oito anos. Somos o quinto maior mercado da Viu Manent. O maior é o americano. O mais importante, o europeu. Os mais pulsantes, hoje, China e Coréia.
Quando Jose Miguel fala de aposta filosófica ele quer, em sua casa, o risco. Ou, como explicou seu enólogo-chefe, Juan Pablo Lecaros, "sempre buscamos a qualidade, claro, só que o que mais buscamos não são apenas grandes vinhos, mas vinhos diferentes". Encontrar gente assim já vale como lição de vida profissional.
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Resumo
Foram 4 brancos, 10 tintos e 1 de sobremesa. Na mesa em que estava, uma constatação quase unânime: eles são muito bons nos tintos, nem tanto nos brancos. Eu gostei mais de 4 dos 10 tintos (40%) e de 1 dos 4 brancos (10%). Nos tintos, ficaria com os que têm na base cabernet sauvignon (o Reserva) e, sem dúvida, com os dois da linha Single Vineyard degustados (um cabernet e um malbec), além do premium Viu 1. O branco que levaria é o Viognier.

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BRANCOS
1. Sauvignon Blanc Reserva 2007
Ligeiro e alcoólico (13º), 100% sauvignon blanc. Vinho do Valle Leyda, que recebe mais influência marinha e deixa este branco mineral. Vai melhor com pratos leves, sem molhos inventivos ou sabores marcados. ST 6.0/10.0
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2. Sauvignon Blanc Secreto 2007
Na Viu Manent, a linha Secreto traz obrigatoriamente 15% dos vinhos feitos com uvas que eles mantêm em segredo. Gosto desse tipo de brincadeira. Aqui, 85% sauvignon blanc + 15%... segredo (13,6º de álcool). De vinhedos do Valle Casablanca, mas menos mineral que o Reserva, e de menor acidez. Para petiscos despretensiosos ou frutos do mar, vale até para acompanhar frutas. ST 6.0/10.0
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3. Viognier Secreto 2007
Vamos lá: 85% viognier + 15% de uvas desconhecidas. Acidez sob controle, muita fruta (lima, abacaxi), mas sem ser 'doce', ele também mostra bem mais taninos. Tem mais presença em boca que os dois primeiros e bem mais álcool: 14,7º. Um prato agridoce é sua companhia ideal. ST 7.0/10.0
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4. Chardonnay Reserva 2007
Talvez entre nesta avaliação, claro, minha preferência: sou mais chardonnay (que, normalmente, tem mais corpo, mais presença) que sauvignon blanc (mais frescos e suaves). Este 100% chardonnay é um vinho de mais corpo, até por sua passagem de 7 meses por madeira (1/3 barricas novas), com 14,7% de álcool. De vinhedos do Valle Casablanca, mas de uma área não tão próxima do Oceano, o que torna o vinho menos mineral, com mais fruta e menos acidez. Depois de 10 minutos da primeira prova, o vinho preencheu mais, cresceu. ST 7.0/10.0
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TINTOS
Linha Reserva. Todos chegarão ao mercado entre 90 e 120 dias -- fim de agosto e começo de outubro. Na Viu Manent, essa linha traz vinhos 100% varietais (uma cepa apenas) com passagem de 10 a 14 meses por barricas (40% novas, 85% a 90% delas de carvalho francês).
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1. Merlot Reserva 2006
Como diz Lecaros, o enólogo da vinícola chilena, merlot é uva manhosa no preparo. Qualquer deslize, ou oscilação natural, e pornto: o vinho está mais doce, muito tânico, com pouca acidez, ou zero persitência. Não é o caso deste, que tem muita fruta vermelha, corpo médio, taninos suaves e permanência média na boca. (Álcool: 14,7%, 14 meses de barrica). ST 6.0/10.0
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2. Carmenere Reserva 2006
Carmenere é aquela uva da qual quem provou uma vez sempre se lembrará. Aroma e sabor característicos. Dificilmente os produtores tentarão trair seus adeptos. E aqui isso é pecado. Um vinho correto. (Álcool: 14,6%, 11 meses de barrica). ST 5.5/10.0
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3. Malbec Reserva 2006
Existe uma fixação da Viu Manent com a uva malbec. Ela é base do premium da casa (o Viu 1, veja abaixo) e motivo da incursão deles à Argentina -- a vinícola comprou vinhedos em Mendonza para trabalhar com a uva. No Chile, de onde sai este Reserva, parte dos vinhedos mais tradicionais da grife são de malbec. E deles sai um vinho de baixos taninos e muita fruta, mas tudo sob controle, de muito bom gosto. (Álcool: 14,4%, 14 meses de barrica). ST 6.0/10.0
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4. Cabernet Sauvignon Reserva 2005
Muita gente andou de pirraça com a cabernet. Na base dos melhores bordeaux, no novo mundo ela explodiu em rótulos varietais de muito corpo e muita fruta, o que causou certa decepção aos puristas. Esqueçam generalizações. Há cabernets e cabernets. E os chilneos sabem o que fazem quando mexem com esta uva. Melhor Reserva da noite. Tanino, fruta e corpo na medida ideal. (Álcool: 14,1%, 14 meses de barrica). ST 7.5/10.0
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Linha Secreto. Nesta linha, a Viu Manent adota princípios de qualidade de um reserva, mas com toques de modernidade. Passam menos tempo em barricas (de 7 a 9 meses, 90% barricas novas) e têm 85% da uva que vai no rótulo, o outros 15% podem ser de várias cepas, até de uvas brancas.
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5. Carmenere Secreto 2006
Bordô intenso, tem mais fruta e menos nariz que o Reserva. Numa segunda boca, sai um pouco da fruta e ele fica mais complexo. (Álcool: 14,8%, 7 meses de barrica). ST 6.0/10.0
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6. Malbec Secreto 2006
Novamente a comparação com o Reserva mostra um vinho mais fácil de digerir, menos intenso que o Reserva Malbec. (Álcool: 14,4%, 7 meses de barrica). ST 6.0/10.0
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7. Syrah Secreto 2006
Tem fruta presente, mas não marcada. É um rótulo de vinhedos jovens -- 9 anos, em média (segundo o enólogo), ou 7 anos, em média (segundo o site). Para quem busca um syrah diferenciado, não tão australiano (marcado). Da linha Secreto, foi o de que mais gostei. (Álcool: 14,6%, 7 meses de barrica). ST 6.5/10.0
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Linha Single Vineyard. Nesta linha, os vinhos ficam de 11 a 14 meses em barricas, 80% a 90% delas novas. São feitas colheitas manuais em parcelas bem restritas de vinhedos específicos. Rendem vinhos que agüentam guarda superior a cinco anos.
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8. Cabernet Sauvignon Single Vineyard 2005
Imediatamente se nota que não se trata de um cabernet comum -- o que remete à promessa do enólogo Lecaros ("mais que grandes vinhos, buscamos vinhos diferentes"). As uvas vêm do Valle Colchagua, de uma pequena região chamada La Capilla, dos lotes 1, 2 e 3. A baixíssima densidade já antecipa que pode vir dali um grande vinho. E vem. Com 87% cabernet e 13% malbec, tem ótima permanência, preenche toda a boca. Vinho para pratos untuosos, se preciso. E que promete crescer ainda muito em garrafa. A melhor das safras desta linha cabernet é a 2004. Provamos a 2005, que estava maravilhosa. (Álcool: 14,3%, 14 meses de barrica). ST 8.0/10.0
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9. Malbec Single Vineyard 2006
Este vem da região chamada San Carlos, de duas pequenas áreas cultivadas com baixa densidade. Também mostrou potencial de crescimento. Nesta safra, 93% malbec e 7% cabernet. (Álcool: 14,7%, 12 meses de barrica). ST 7.0/10.0
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Linha Viu 1 (Uno). É o premium da Viu Manent. A idéia era fazer o vinho top da casa em safras muitíssimos especiais. O primeiro é de 1999. Depois vieram 2001, 2003, 2004, 2005 e 2006. Produção limitada (perto de 11 mil garrafas/ano, com exceção da safra 2005, que não chegou a 5 mil garrafas), eles passam de 18 a 24 meses em barricas. Em 2003 e 2004 foi eleito o segundo melhor premium chileno. Inicialmente, deveria existir o Viu 2, o Viu 3, assim como a composição variaria ano a ano. Isso não fosse a fixação, já falada neste post, da vinícola pela malbec. O nome tornou-se Viu 1 para todas as safras e a malbec carrega o vinho -- a composição varia entre 88% e 98% de malbec e o restante cabernet sauvignon.
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10. Viu 1 2006
São 11,3 mil garrafas, 20 meses de barrica, 94% malbec e um vinho ótimo, que tem muito ainda a crescer. (Álcool, 14,8%) Compre e guarde. Compre e sirva. Decante sempre. O produtor diz que agüenta fácil até 2016. Vale apostar, pois me pareceu que ele ficará ainda melhor daqui um tempo. ST 8.0/10.0
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Encerramos a noite com um late harvest Semillon que passa 7 meses em barrica e tem 11,5% de álcool. Foi perfeito com terrine de foie gras na entrada, mais do que com o doce da saída.

18/05/2008

44. Espaço Tambiú

Despretensiosa. Essa palavra resume a casa. E isso é elogio. Amigo bom de faro, de garfo e de copo, André Nigri indicou. Fui com signora P no sábado, 17. Pedimos de entrada costela de pacu com pimenta e caldinho de peixe. Depois, ela foi de mugica de pintado (cubos de posta de peixe com moqueca, mandioca e cebola) e eu de bracciola de pintado (com cogumelos, brócolis, castanha e damasco). O chef Pingo é de Corumbá (MT) e elabora pratos com a pegada de sua cidade, é orgulhoso de suas raízes. O dono é de São Paulo mesmo, e vai duplicar o horário de atendimento da casa (hoje, 5 períodos: jantares de quarta a sexta e almoço aos sábados e domingos; passará a 10 períodos: jantares de terça a sexta e almoços de terça a domingo). Tem peixe frito a partir de 20 reais e vinho a partir de 21 reais. Único senão: a despeito do maravilhoso pirão e do maravilhoso arroz com castanhas, menos molho deixaria aparecer mais o sabor dos peixes.
* Espaço Tambiú. Rua Diana, 381, tel. 3801.2793.

43. Cadê o Frango?

Sei lá quanto tempo atrás, mas não muito, o Pirajá -- tradicional bar de um tradicional grupo de donos de bares e pizzarias em São Paulo -- passou a abrir para almoço. Opção excelente para quem tá pros lados de Pinheiros. Já fui lá quatro vezes, nas quatros atrás do Frango de Leite. Achei uma só. Então nem vou avaliar os demais pratos -- todos mais ou menos. Mas pô!, não se oferece um Franguinho que você não tem condições de manter no cardápio para 75% das visitas.

42. Acarajé na Rota

Anote: "a" Santa Cecília vai ser "o" lugar. Bairro dos mais tradicionais da cidade, encostado em Higienópolis, tem algo que este seu vizinho não tem: autenticidade. Estar em Higienópolis é como estar em um laboratório: você sabe que é limpo (ok, esqueça os cocôs de cachorro), você sabe que é seguro e você sabe que é chato e não vê a hora de sair de lá. Bem, Santa Cecília é o vizinho pobre, de menos glamour, mas com muito mais vida. Dois quarteirões ajudam a resumir a nova Santa Cecília. O quadrilátero entre Jaguaribe, Martim Francisco, Imaculada Conceição e Barão de Tatuí. São 5 endereços que valem sua avaliação.
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1. Bacalhoaria Chiappetta
Chiappetta é sinônimo de tradição em alimentos em São Paulo. Coisa daquela italianada que tomou conta da Zona Cerealista do Brás, no começo do século passado, e de qual parte migrou para o Mercadão Municipal -- aliás, nunca diga "Mercado Público", que é coisa de gaúcho, não de paulista. É legal saber que a família investiu num casarão tradicional para fazer este restaurante, mas a cozinha é menor que o nome e o bacalhau é no máximo correto -- o que não é pouco. Por isso vale a visita, assim como vale ver o jogo de um time de tradição mesmo sem que ele esteja no melhor de sua fase.
* R. Martim Francisco, 427, tel. 3826.3033. Terça a sábado (10h às 22h); domingo (10h às 17h). Fecha segunda.
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2. Le Tire Bouchon
É único. Isso significa que poucos cantos em São Paulo se parecem com o Le Tire Bouchon, o que já é mérito e tanto. O dono é francês e a oferta de vinhos da loja demonstra o patriotismo. Aberto em novembro de 2005 como casa de vinhos, a loja ganhou bar à vin e um minúsculo (e lindo) restaurante no subsolo. O único inconveniente é a escada. Para descer, tudo bem, mas depois do jantar você vai pensar que deveria ter bebido uma ou duas taças a menos. Esqueça isso e vá. No bar à vin, você pode pedir umas bruschettas ou polenta com gorgonzola e cogumelos e ficar num dos vinhos da loja -- não está a fim de vinho?, beleza, peça cerveja. Mas não deixe de ir um dia para jantar. Peça sem medo o menu da noite, escolha uma garrafa da loja e saia de lá decidido de que Santa Cecília é o melhor bairro da cidade.
* R. Barão de Tatuí, 285, tel. 3822.0515.
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3. Club da Cana
Cachaçaria de primeira. Se você quer impressionar, ver ou ser visto, paquerar, não sei qual cachaçaria indicar. Mas se você quer cachaça, é esta. Centenas e centenas de rótulos. Ali você pode pedir petiscos, pedir um prato, pedir garrafa, pedir várias para degustar. Pode pedir água ou cerveja. Não importa sua pedida, sairá de lá mais entendedor de cachaça do que entrou.
* R. Barão de Tatuí, 271, tel. 3663.1171. De terça a sbaádo, até o último cliente. Domingo, até 22h. Fecha segunda.
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4. Fuad, ou Esquina Grill
Tradicionalíssimo, existe desde 1966. Cerveja e petiscos. Ou para matar a fome na madrugada -- tem um dos melhores picadinhos de São Paulo. Vá de turma, é a cara dali. Cadeira de plástico, mesa de lata, alguns pedintes na calçada. Para equilibrar o jogo, garçons ligadíssimos e aquele picadinho que paga/apaga tudo.
* R. Martim Francisco, esquina com Imaculada Conceição. Abre todo dia, fecha tarde pra caraca.
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5. Rota do Acarajé
Por fim, o motivo que me levou ao post. Este lugar a cada dia se transforma no endereço dos moderninhos e descolados (ainda se usam essas expressões?). A pegada é o acarajé. Vem sequinho, o que entendo como mérito, e o bar tem ainda outras opções "baianas" ou "nordestinas". Vou ser sincero, acarajé para mim exige o talento culinário de um fritador de pastel: ficou seco, ok. Por isso, prefiro outras porções e as cervejas. Apareça e diga que conheceu ali antes dos 'culegas' da firma. Quer motivo mais nobre? Marque o próximo encontro na Rota e passe horas mais que agradáveis com amigos de verdade.
* R. Martim Francisco, 529/533, tel. 3668.6222. Terça a sábado até 23h30 e domingo até 22h. Fecha segunda.

31/01/2008

41. Agadir (rest)

Fazia certo tempo que não ia ao Agadir. Noite de quarta, Palmeiras derrotado em Piracicaba, saímos eu e Signora P à procura de um lugar para jantar. Ela lembrou-se do Agadir (rua Fradique Coutinho, 950, Vila Madalena, tel. 3097.0147). Sugestão que acatei na hora. Adoro o lugar, adoro a comida marroquina. Sempre que vamos ao Agadir o restaurante está vazio ou quase. O que me estranha, porque a comida de lá é deliciosa. São poucos pratos -- cuscuz, tajine, pastilla --, mas você pode escolher às escuras que vai gostar.
Ambiente. Luz baixa, tecido com as cores da bandeira marroquina no teto, luminárias, louças e copos típicos, aquele cheiro característico de especiarias. Fica numa daquelas casas de fundo comuns da Vila Madalena, umas que têm um comprido corredor -- como o Santa Gula. Você entra ali e a sensação é de viajar no espaço (pro Marrocos, claro) e no tempo (que parece andar mais lentamente).
Atendimento. Um garçom marroquino dá conta do serviço. Ele e seu português de sotaque carregado.
Cozinha. Bem, sou fã. E lá vem como se deve. De entrada, pedimos o couvert, com pasta de espinafre cozido temperado com limão siciliano, azeitonas e azeite; pasta de berinjela; e pasta de lentilha. Vêm acompanhadas de pão marroquino (mais conhecido aqui por pão sírio). No prato principal, fomos de cuscuz (com carne de carneiro). Seco e solto na medida, acompanhado de legumes 'al dente' e de uma cumbuquinha com caldo de legumes para você ir 'molhando' o cuscuz. A carne com ameixas e amêndoas estava macia e saborosa, sem nacos de nervos. Na sobremesa, laranja fatiada com canela e perfume de rosas. Simples e deliciosa. Fechamos com chá. Saímos de lá do jeito que tem de ser quando se come num restaurante de culinária de outro país: com vontade de viajar ao Marrocos, de aprender um pouco de árabe, de tentar fazer em casa, de encontrar aqueles condimentos surpreendentes. Saímos já querendo voltar.

23/01/2008

40. Copo d'água

Metade cheio ou metade vazio? Para o pessimista, um copo com água até a metade está metade vazio. Para o otimista, metade cheio. Quem me passa os números é o chef Zé Maria Meira. Nos Estados Unidos, 9 em cada 10 adultos comem fora regularmente. Na Europa são 6. No Brasil, 2. O mercado vai crescer no Brasil ou aqui não tem jeito mesmo? Eu sou um otimista. Mais pessoas vão comer fora. Mais pessoas vão comer bem. Mais pessoas vão comer. Esta é a nossa sina: ficarmos melhores.

19/01/2008

39. Rei do Falafel (e das chawarmas)

Cada vez maior, a comunidade muçulmana ali do Pari e do Brás, em São Paulo, tem feito aparecer uma leva de casas de cozinha árabe. Sempre fui fã dessa culinária. Neste sábado (19.1.2008), Signora P me levou ao MaxiFour, o espetacular mercado de produtos árabes de São Paulo. Fica ali no Brás. Ao lado, no número 102 da rua Júlio Ribeiro (tel. 6292.0357), está o Rei do Falafel. Foi nosso endereço para o almoço. O lugar não deve ter mais de 3 metros de largura, algumas mesas, outro tanto de bancos junto ao balcão e um atendimento à beira do heróico quando lota. Mas vale cada minuto. Devoramos chawarmas (finas fatias de pão sírio enroladas e recheadas). De carne, frango e falafel (com grão-de-bico, tomate, especiarias...). A carne é retirada daquelas máquinas giratórias que no Centro da cidade a gente chama de churrasco grego. Também pedi chawarma de linguiça libanesa. Tudo estava sensacional. Delicioso. Comida com gosto único. Queria provar o miolo à moda síria, não tinha mais. Cada chawarma custa 6 reais. A cerveja não vem tão gelada, então é melhor pedir chá mate para fazer companhia. Com pouca grana você comerá como um nobre árabe, ou um beduíno faminto, depende de quem contar a versão. 1) Repito: trata-se quase de um pé-sujo. 2) Insisto: não deixe de ir.

38. Cordel (rest)

Ninguém mais se ilude que a paulistana Vila encareceu, requintou-se. Tem um bar autêntico aqui e outro ali, um restaurantezinho sem pretensão e tal, mas na média as casas têm surgido com um "kit conceito". O Cordel (rua Aspicuelta, 471, tel. 3375.0471) faz parte dessa leva -- e isso não é notícia ruim. Significa que a mais democrática das noites de São Paulo continua a mais democrática. A casa de sotaque pernambucano nasceu tem pouco mais de mês e oferece uma cozinha nordestina contemporânea. Entendeu? Não espere um pé-de-areia. Isso colocado, ele vai agradá-lo. E muito. Fomos eu e Signora P. Pedimos, de entrada, uma cebola assada com carne seca desfiada e queijo coalho (14 reais). Depois, pratos de peixe (27 e 25 reais). O dela com arroz de coco e crosta de amêndoa; o meu com purê de banana da terra e molho de espinafre. Estavam deliciosos. Tomamos cerveja -- a carta de vinhos é restrita e, se você optar por um, vai perder a chance de degustar a seleção de pimentas. De sobremesa, ela ficou no bolo de rolo com sorvete de nata e eu ataquei uma espécie de porção de massa doce na cachaça com sorvete de coco. O ambiente é mais para formal (piso frio, madeira&pedra, luz baixa), assim como o atendimento. Tranqüilize-se: nem um nem outro são exagerados. Voltaremos, em especial pelo peixe (delicioso e de bom preço).

15/01/2008

37. Sabiá

Uma aposta: vai estourar. Na segunda (14), estive lá com Signora P. Devoramos um caprichado (e barato) Tutu à Paulista. Lugar para comer bem, no almoço, e beber bem, à noite. Ali na Purpurina com Fidalga.

11/01/2008

36. Vejinha vs Secondo Tucci

Sim, você conhece a lista da Vejinha, O Melhor da Cidade. Segue minha lista para comparar:
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Melhor Boteco
Vejinha (Elídio) x Secondo Tucci (Valadares)
"São ambos sensacionais, mas o Valadares ganha por um copo de vantagem. Até porque esse copo vem sempre gelado a cada cerveja esvaziada"
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Carta de Cervejas
Vejinha (Frangó) x Secondo Tucci (Frangó)
"Este dificilmente será batido nessa categoria"
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Chope
Vejinha (Original) x Secondo Tucci (Léo)
"É difícil ir ao Léo se você não trabalha no Centro. Fecha cedo, sempre tem trânsito... Mas eu vou. E nunca me arrependo. O melhor chope da cidade"
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Cozinha
Vejinha (Astor) x Secondo Tucci (Platibanda)
"Croquetes sequinhos, pastéis saborosos, pratos caprichados. É uma cozinha demorada, e menos pretensiosa que a do Astor (uma grande cozinha), mas ganha na autenticidade"
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Fim de Noite
Vejinha (Genial) x Secondo Tucci (Filial)
"Filial, sem dúvida. Chegue lá à 1h da manhã. Tem espera! Como pode ganhar no item 'Fim de Noite' um bar que nem sempre fecha tão tarde? E depois do Filial eu colocaria o Piratininga".
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Happy Hour
Vejinha (Salve Jorge/Centro) x Secondo Tucci (Salve Jorge/Vila Madalena)
"Porque não existe nada mais chato que happy hour com hora para terminar (por mais que seja 'apenas' às 23h...) No Centro, termina. Na Vila, continua -- lá ou em outro endereço"
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Bar de Hotel
Vejinha (Skye) x Secondo Tucci (Skye)
"Mas reze para não esperar até 90 minutos na fila do elevador caso não esteja hospedado. Se for o caso, corra ao The View, na Alameda Santos"
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Música ao Vivo
Vejinha (Baretto) x Secondo Tucci (Piratininga)
"Música bacana sem dispensar certa descontração"
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Ir a Dois
Vejinha (Salommão) x Secondo Tucci (Baretto)
"Porque impressiona, é estiloso mesmo"
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Paquerar
Vejinha (Bellini) x Secondo Tucci (All Black)
"Ei, você sabe como é o clima num pub, não? Então, nada supera um pub nessas horas"
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Barman
Vejinha (Souza, do Veloso) x Secondo Tucci (Souza, do Veloso)
"Talvez você não entenda a explicação, mas a caipirinha tá sempre igual, e quase sempre surpreendente"

35. Petiscos, meus 10 mais... São Paulo

Petiscos
10. Fogazza do "Amigo Giannotti" (Bela Vista)
9. Rãs do "Valadares" (da Faustolo, na Lapa)
8. Canapé de linguiça crua do "Platibanda" (Vila Madalena)
7. Sardinha Croque-Croque do "Elídio" (Mooca)
6. Empanadas do "Empanadas" (Vila Madalena)
5. Pastéis + Caldinho de feijão do "Filial" (Vila Madalena)
4. Coxinha de frango com Catupiry do "Frangó" (Freguesia)
3. Sanduíche Polaco (rosbife, queijo e cebola) do "Bar Léo" (Centro)
2. Sanduíche Alemão Maluco (kassler e chucrute) do "Amigo Leal" (Centro)
1. Pastel Garoupa (atum, camarão, palmito e azeitona) do "Bar Garoupa" (Santo André)

Pratos
3. Rabada com polenta e agrião do "Platibanda".
2. Prato de mãe (arroz-feijão-filé à milanesa e saladinha, que troco por vinagrete) do "Filial".
1. Picadinho do "Fuad".

06/01/2008

34. Rong He (um china)

Este é da Liberdade. Fomos eu e Signora P, sábado, véspera de Natal, que é ótimo momento para visitar um chinês -- mesmo que eles tenham colocado bolinhas vermelhas na parede, Natal para eles é como mandarim para mim. O Rong He fica na rua da Glória, 622-A (depois passo o tel) e a primeira impressão é de que se trata de um lugar limpo. Sei, sei, buscar correção higiênica em chineses pode ser exercício desnecessário, mas com certeza você fica mais à vontade para provar a porção de orelha de porco frita e a entradinha de algas. Signora P me questinou sobre os petiscos suínos, mas estranho para mim, confesso, é alga. O porco eu sei como nasce, onde vive, o que come. Já as algas... Como prato principal, pedimos massa com molho de frutos do mar, molho que parece uma sopa. O Rong He fez fama com suas massas artesanais preparadas à vista do cliente. Coisa de mamma italiana (na verdade, coisa de mamma chinesa, já que desde Marco Polo sabemos quem fez o que antes). Duas delícias de saída: a sobremesa e poder pagar com cartão, coisa rara em endereços (coreanos, japoneses e chineses) da Liberdade.

33. Dô (um japa)

Escolher um japonês em São Paulo não é tarefa simples. Pense na diversidade. Em 2008, a imigração japonesa ao Brasil comemora 100 anos e o epicentro dessa massa de orientais concentrou-se em São Paulo. Aqui está a maior comunidade japonesa fora do Japão. Coreanos e chineses chegaram e engrossaram o caldo, em todos os sentidos. Conheci a Chinatown de Los Angeles, a de Nova York e a de San Francisco. Apenas esta rivaliza com a de São Paulo -- e perde. Como dizia, escolher um japonês em São Paulo não é tarefa simples. Deve existir uma oferta semelhante à de pizzarias. Vamos deixar à parte o Jun Sakamoto (de que falarei em outro post). Um dos Top 10 é o Dô. Acaba de fazer quatro anos de vida (é de novembro de 2003). Aberto por três amigos -- Osmar, Kazu e Rogério --, se fundamenta numa cozinha de extremo cuidado, bons ingredientes e atenção aos detalhes, quesitos fundamentais a um bom japonês. Um sashimi de atum lá é mais que um sashimi de atum. Um sushi especial de agulhão, um tuna pepper, um especial de ovas de salmão com gema de codorna... Cada peça parece ter sido ajeitada por um relojoeiro suíço. Como se fosse pouco, ocupa um dos endereços mais charmosos da cidade, sob um predinho de 3 andares, onde antes funcionava o restaurante I Vitelloni, em Pinheiros -- a propósito, a pizzaria, primeiro post deste blog, continua ali ao lado. São 9 mesas, 36 lugares e 8 cadeiras junto ao balcão. Ali você impressiona a namorada, impressiona na hora de um business, se impressiona. "Cent'anni!". O Dô (rua Padre Carvalho, 224, Pinheiros. Tel 3816.3958) é um que vi nascer e aonde vou com Signora P desde a abertura.

05/01/2008

32. Barca Velha

Produzido desde 1952, o talvez mais mítico de todos os portugueses só é declarado em anos excepcionais. O último rótulo foi o de 1999. Tivemos Barca Velha de 15 safras: 1952 - 1953 - 1954 - 1957 - 1964 - 1965 - 1966 - 1978 - 1981 - 1982 - 1983 - 1985 - 1991 - 1995 - 1999. Na internet, achei um do ano em que nasci (1966) por 475 euros. É meu sonho de consumo. Na sua base, uvas Tinta Roriz com Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Barroca. Antes, sobressaía a Tinta Roriz, mas desde a safra 1999 ela está mais equilibrada às demais uvas. De colheita manual, passa de 12 a 18 meses em barricas novas e outro tanto de anos em garrafa antes de chegar ao mercado -- as 30 mil unidades do 1999 foram vendidas somente a partir de 2006. Saiu em Portugal entre 100 e 110 euros (280 a 308 reais). No Brasil, é comercializado entre 650 e 700 reais. Em tempo: nestes 56 anos de Barca Velha, apenas dois enólogos estiveram à frente do vinho. Para provar o seu, recomenda-se abri-lo de duas a três horas antes e decantá-lo. Depois... sorria.

31. Carlinhos (rest)

Almoçamos, eu e Signora P, no Carlinhos, no Pari. O restaurante (rua Rio Bonito, 1641, Pari. Tel 3315.9474) existe há 37 anos e se autodefine como Rei da Picanha Artesanal -- até devo prová-la um dia --, mas vou lá atrás de arais, basturmás e kaftas deliciosos. Em São Paulo, onde esfiha e beirute equivalem aos hambúrgueres nos Estados Unidos, a culinária árabe está no dia-a-dia. Mesmo assim, os arais e basturmás são exceções. O primeiro é uma espécie de kafta prensada servida no pão sírio. O segundo é uma carne crua que fica uma semana curtida em sal e especiarias (a versão com ovo frito se chama basturmalá). Outra opção, se você pedir com antecedência e juntar uma turma (dá para uns 8 glutões facilmente), é o cordeiro recheado à moda armênia. Meu Deus! Corra ao Pari.

30. Churrascaria

Não freqüento. Até conheço gente que jura ter uma alta cozinha, ou excelente atendimento, mas não consigo conceber que o ato de comer seja um incessante aceitar/recusar carnes (ou o quer que seja) de todo tipo no seu prato. Gosto de sentar, pedir uma entrada, falar, comer, falar, pedir o prato principal, comer, beber... Um ritual que churrascaria inviabiliza. Signora P compactua comigo a tese.

29. La Frontera (rest)

Quem me apresentou o La Frontera foi Signora P, em julho de 2007. O restaurante já existia havia um ano (abriu em 2006), mas a sensação era de que encontrara a mão naquele instante. Isso é comum -- e costuma demorar mais que um ano. Bem, voltamos lá outras três vezes. Nas três primeiras, fiz algo que não recomendo e que não costumo fazer: pedir o mesmo prato. Mas era mais forte que eu. A paleta de leitão, que passa três horas assando vem com uma suave casquinha crocante e purê, é deliciosa. Na última visita, tentei algo muito básico, para avaliar a cozinha num prato quase operário, o galeto. Estava correto, mas muito distante da saborosa paleta. Ao La Frontera (rua Coronel José Eusébio, 105, Higienópolis. Tel 3159.1197):
Ambientação. Entrar naquele sobrado de esquina escondido atrás do cemitério da Consolação vale a visita. A decoração é acertada ao não ter forçado a caracterização "à antiga", e o ambiente à noite torna-se interessantemente equilibrado, bem descontraído com certo toque de austeridade. Percebe-se o conceito "menos é mais", o que quase nunca dá errado. Como contraste a esse clima "restaurante noir", um janelão retangular no fundo do salão descortina a cozinha. Enfim, entro lá e pareço ser transportado a um endereço paulistano dos anos 40. Uma boa escolha é a mesa junto ao janelão em diagonal, à esquerda de quem entra.
Atendimento. A casa virou sucesso, então saiba que pode encontrar espera. A brigada é gentil e atenta. Sempre gentil e quase sempre atenta.
Cozinha. Está evidente no cardápio a preocupação de atender também quem não quer carne. Explica-se: o La Frontera é da mesma dona do tradicional portenho Martin Fierro, restaurante de carnes da Vila Madalena, e queria deixar explícito que sua nova casa não era uma extensão caprichada da antiga. Acertou. Os peixes são tão cuidados quanto a massa e as carnes. Signora P, em nossa última visita, pediu tagliatelle com linguiça apimentada -- saborosíssimo. Antes, abrimos os trabalhos com a entrada de grão de bico e queijo de cabra e outra com tomates e presunto cru. Fui de galeto. Para acompanhar, o português Herdade do Peso Colheita 2003.
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Relação vinho x importadora (ótima: 11% a 20% mais caro):
Herdade do Peso Colheita 2003 (produtor Sogrape)
19% mais caro na carta (101 reais) que na importadora (85 reais em 5.1.2008)

04/01/2008

28. Água Oxigenada

Na cozinha, sempre. Água Oxigenada é um poderoso desinfetante e germicida. Use para limpar balcões, pias, tábuas de madeira, mesas...

27. Para lembrar

Café e vinho, nunca com açúcar. A não ser que você ainda não tenha feito 6 anos.

02/01/2008

26. Espanha (1)

Na Espanha, basicamente os tintos se classificam em Crianza, Reserva e Gran Reserva. Cada região adota um critério, mas em linhas gerais o que temos é:
Crianza. Mínimo de 6 meses em barricas e até dois anos em bodega, incluindo o tempo em garrafa. Assim, será um Crianza um vinho com 6 meses de madeira e 18 meses em garrafa tanto quanto outro com 12 meses em madeira e 12 meses em garrafa. Repito: sempre de acordo com cada região. Os Riojanos, por exemplo, pedem mínimo de 12 meses de madeira e só podem ir para o mercado em seu terceiro ano (safra ano 2006 + 2 anos entre madeira e garrafa = mercado apenas em 2009 ou, muito raramente, no fim de 2008). Reserva. Estes pedem necessariamente três anos na vinícola, sendo pelo menos 12 meses em madeira. Gran Reserva. O topo da cadeia. São no mínimo 24 meses em barricas e outro mínimo de 36 meses em garrafa. Assim, nunca sairá para o mercado com menos de cinco anos.
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As safras 2001, 2004 e 2005 foram classificadas "Excelentes" para os tintos de Rioja. A de 2006 receberá classificação "Muito Boa". Já as safras de Ribera del Duero receberam avaliação "Excelente" em 2001 e 2005 e "Muito Boa" em 2004.
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