30/03/2009

56. Dois

Aberto no fim de 2008, eu e Signora P havíamos feito uma visita em dezembro. Na época, recém-inaugurado, pedia algum reparo no atendimento, um pouco desordenado, e observava-se certo deslize vindo também da cozinha -- meu pedido, Costelinha de Porco, estava levemente ressecado, um crime com carnes de qualquer naipe, ainda mais as de porco. Nada como dar uma segunda chance à vida. Voltamos neste domingo (29.3) ao Dois Cozinha Contemporânea (rua Antonio Bicudo, 112, tel. 2533.5028. Terça a sexta almoço e jantar, sábado apenas jantar, domingo só almoço). Com que prazer.
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Ambiente. Entrada discreta que faria o desavidado passar batido. Dentro, um amplo salão arejado todo branco e sem afetações. Piso e mesas de madeira, toalhas brancas, alguns lugares no quintal. Dois ventiladores de teto e muita obra de arte nas paredes. Ambiente feito para não brigar com a comida. Primeiro acerto. 7.5/10.0
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Atendimento. Conhecia três dos membros da brigada de outras casas paulistanas (Buttina, La Fronteira, Lola e até um mais recente do Bar São Cristóvão). O serviço está muito atento. E o que é melhor: solícito. Explicou cada prato sem pretensão. Mas precisei me servir do vinho duas ou três vezes com a taça esvaziada. 8.0/10.0
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Cozinha. Felipe Ribenboim e Gabriel Broide dividem o comando. Pelo que li, o primeiro estagiou no El Bulli (Roses, Espanha) de Ferran Adrià e o segundo passou pela cozinha do Daniel (Nova York, EUA), de Daniel Boulud. No Dois a aposta em ingredientes brasileiros é evidente. E as invenções têm a clara intenção de realçar e surpreender, não de roubar a cena. O resultado é uma cozinha que cresce de forma vibrante. E sólida. Desta vez, fui de Gefiltfish de Pirarucu de entrada (R$ 17, acompanhado de folhas e pistilo de jambu, de origem amazônica, que deixa a língua levemente adormecida) e Ossobuco com Baked Mandioquinha (R$ 41). Signora P preferiu entrada de Folhas Verdes (R$ 22) e Nhoque de Cará com Ragu de Galinha Caipira e Quiabo Frito (R$ 28). Pedimos o português Quinta de Baixa Reserva 2001 (R$ 98 -- R$ 44 na Vinci Vinhos). O nhoque estava delicioso, mas um tanto pesado, e havia um tanto a mais de sal no quiabo. O ossobuco veio no ponto, sem desmanchar demais. Tenho certeza de que a terceira visita trará ainda mais frutos. O Dois cresce. 8.5/10.0
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Final, 24/30. Média = 8.0

28/03/2009

55. Bar do Luiz

Fico orgulhoso de voltar ao blog com este comentário (é o primeiro post do ano). Fica láááááááá no Mandaqui. Longe para quem não mora na ZN, é claro. A região norte de São Paulo é bacana, tem uma cara própria e orgulhosa, um bairrismo à antiga, como a ZL. Respeito isso.
Sábado, fui em busca de um bar aberto em fevereiro, Seu Antonio. Teria sido criado por um ex-dono do Salve, Jorge (segundo a Época São Paulo) ou por um ex-gerente do Salve, Jorge (segundo a Vejinha SP). Fica na Engenheiro Caetano Álvares, mais conhecida como a avenida que sai do Estadão. Na altura do número 5.000, há uma seqüência de bares. E lá estava o Seu Antonio. Eu e Signora P ficamos na porta. Não sabíamos que tinha música ao vivo, prato que normalmente dispensamos. Tanto Vejinha quanto Época SP, que não concordaram quanto a origem do fundador do lugar, concordaram quanto a não falar que havia música ao vivo.
Decidimos ficar por ali mesmo e chegamos à Cervejaria do Luiz, um quarteirão abaixo.
A casa é cria de um boteco aclamado, ali perto, o Bar do Luiz (Fernandes), lugar em que infelizmente nunca consegui pôr os pés -- sempre que tentei a espera não deixou dúvida de que dali brota qualidade. Na cervejaria, tocada pela família de seu Luiz, você não se decepciona. Os quitutes são campeões. E a cerveja, gelada -- peça o copo americano. Para acompanhar, abrimos os trabalhos com Delícia de Portugal (bolinho de bacalhau com queijo, brócoli, azeitona e arroz, servido no alho frito), vice-campeão 2008 naquele torneio de petiscos da Bohemia. Depois, encaramos Segredo da Dona Idalina (o nome é isso ou perto disso, tá?, uma maravilha em forma de bolinho de berinjela recheado de carne quase crua e queijo), petisco campeão do mesmo torneio em 2006. Ainda houve condições de encarar uma porçãozinha de rollmops (que lá é grafado com "n" ?!), aquelas peças de cebola envoltas em sardinha que ficam em conserva nos melhores e piores botecos do sul-sudeste do país. Para encerrar, uma espetacular porção de canapés de lingüiça blumenau (derrete na boca como manda a Bíblia, e se você não encontrar esse relato na Bíblia a culpa é da Bíblia e não minha). Bem, hora de deixar a ZN e voltar, feliz da vida, pros lados da Zona Oeste. E tentar em breve conseguir lugar no endereço original do Bar do Luiz. Sábado de reis.